Golfinho boliviano, esperança de conservação na Amazônia
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Os botos são uma das espécies mais ameaçadas do mundo e geralmente vivem em países em desenvolvimento da Ásia e da América do Sul, onde as atividades humanas os colocam em risco. Capturas dirigidas para ser usado como isca, interações negativas com a pesca, caça e envenenamento por pescadores, poluição dos rios por mercúrio e os hidrocarbonetos, e fragmentação de habitat devido à construção de barragens são as principais ameaças.
Eles também são considerados um importante indicador da qualidade dos ecossistemas aquáticos que habitam. Assim, são essenciais para estudos científicos, já que facilitam a avaliação do impacto das ameaças como a poluição de óleo e mercúrio, e a construção de infra-estruturas tais como barragens e hidrovias na bacia.
Tendo em conta as ameaças, criou-se um programa para conhecer o estado de conservação dos golfinhos do rio através da estimativa de abundância da espécie na América do Sul. Assim, desde 2007 foram realizadas expedições que viajaram mais de 7.000 quilômetros de rios nas bacias do Amazonas e do Orinoco, através da Venezuela, Colômbia, Brasil, Equador, Peru e Bolívia. Através destas viagens de pesquisa foram possíveis identificar as ameaças mais importantes para as espécies e, criar uma rede de trabalho importante entre as organizações e pesquisador. Além disso foi possível implementar uma estratégia de comunicação global, que como resultado muito comemorado na Bolívia, confirmou a que a espécie era de fato endêmica.
Características do golfinho boliviano
Paul van Damme é o diretor da Associação Faunagua, uma instituição boliviana que lidera a investigação dos golfinhos, promovendo estudos participativos na Amazônia boliviana. Para van Damme, de acordo com os resultados alcançados ao longo dos anos e em diferentes expedições, pode-se concluir que o golfinho do rio boliviano é o maior dos golfinhos, os machos podem medir até 2,55 metros de comprimento e pesam entre 160 e 180 quilos, enquanto as fêmeas medem até 2,16 metros e pesam cerca de 100 quilos. Este golfinho foi visto sozinho, embora tenham sido vistos grupos de até 19 indivíduos, que podem ser compostos de vários machos agrupados para caçar, ou fêmeas com seus filhotes.
É considerado como um importante ícone e especie bandeira que pode promover a conservação do meio ambiente. (Foto: Fernando Trujillo / OMACHA)
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Estima-se que o período de gestação é de 10-11 meses, e após este período geralmente um único filhote que nasce é desmamado entre o nono e décimo mês. Pode-se observar as fêmeas com filhotes durante todo o ano, o que sugere que a reprodução ocorre nas duas épocas: de águas altas e águas baixas.
O golfinho boliviano Inia boliviensis compartilha muitas semelhanças anatômicas com a espécie Inia geoffrensis. À diferença do gênero Sotalia, que são os golfinhos que vivem em ambientes marinhos e de águas continentais, as espécies do gênero Inia vivem estritamente em água doce, por isso apresentam algumas adaptações ao ambiente em que vivem. Manuel Ruiz Garcia, biólogo espanhol pesquisador de golfinhos na América do Sul, explica que algumas das características notáveis do Inia boliviensis são o tamanho médio da população, que é ligeiramente menor que o tamanho médio dos botos-cor-de-rosa que existem no Peru e no Brasil. Outra diferença é a cor, já que o golfinho boliviano é mais claro, o que para alguns pesquisadores é provavelmente devido à temperatura, transparência da água, atividade física e da localização dos indivíduos.”É um cinza mais escuro que caracteriza as populações de outras localidades. Estes animais são de menor comprimento, mas certas partes do corpo, como o pescoço ou o peito, são mais grossas”, diz Ruiz García, e continua: “Esses
Esta espécie é considerada um indicador da qualidade dos ecossistemas aquáticos onde mora. (Foto: Fernando Trujillo / OMACHA)
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golfinhos bolivianos têm um maior número de dentes e parece que a capacidade craniana é menor do que o encontrado em outras formas de golfinhos de rio.”
Na Bolívia, este golfinho endêmico do país tem sua distribuição nos rios da bacia amazônica, nos departamentos de Cochabamba, Santa Cruz, Beni e Pando.
Dentro da sua área de distribuição, o golfinho boliviano enfrenta uma série de ameaças diretas e indiretas, o que levou à formulação de ações concretas em nível nacional para a conservação da espécie. Assim foi o início do programa de conservação do Inia boliviensis na Amazônia boliviana, que contém um conjunto de orientações a fim de proteger esta importante espécie endêmica da Bolívia, e que é liderado pela Associação Faunagua em parceria com a Fundação Omacha, WCS, WWF, CI, Fundação PUMA, telefônica VIVA, Rufford Small Grants (RSG) e Whale and Dolphin Conservation Society (WDCS).
Estratégia Sul-Americana de Conservação de Golfinhos do Rio
Com a experiência anterior do estudo para determinar o estado de conservação dos golfinhos do rio na América do Sul, criou-se o ambiente perfeito para a concepção de um plano continental para a conservação dos golfinhos do rio, disse Fernando Trujillo, diretor científico da Fundação Omacha. Desta forma, o plano foi iniciado em 2008, em Santa Cruz, na Bolívia, em uma reunião envolvendo 50 pessoas de 11 países, incluindo representantes de governos, pesquisadores e da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
“Demorou dois anos para ter o plano pronto, refletindo as situações e necessidades de todos os países, identificando as ações mais urgentes para garantir a sobrevivência destas espécies na América do Sul”, diz Trujillo. Destacam-se a necessidade de avaliar e mitigar os impactos da pesca, parar a captura dirigida destes cetáceos e avaliar as consequências da construção de barragens e usinas hidrelétricas nos ecossistemas aquáticos.
O plano sul-americano também destaca a necessidade de gerar alternativas econômicas para as comunidades locais para programar estratégias de conservação que sejam eficazes e que andem de mãos dadas com a proteção da Mãe Terra. “Destacamos as atividades turísticas em torno dos golfinhos, que já existem na Colômbia, como a observação da espécie em seu habitat natural, que promovem a participação dos pescadores e das comunidades indígenas”, diz o pesquisador Trujillo.
Saulo Usma, funcionário da WWF e mais um adepto dos golfinhos, explica que a estratégia sul-americana propõe um plano de ação para cada país, respondendo às circunstâncias de cada nação. Atualmente já existem os planos para a Colômbia e Bolívia, que tem apoio do governo em cada país, sendo um apoio vital para a sua execução, demonstrando o interesse e o reconhecimento da importância destas espécies para os governos nacionais.
“Os golfinhos estão seriamente ameaçados e em perigo de extinção em outros continentes. Porém, a América do Sul, e especialmente a Bolívia, ainda tem as populações de golfinhos do rio em um relativo bom estado”, afirmou Fernando Trujillo. “Nós ainda temos tempo para tomar as medidas necessárias para evitar que nossos golfinhos sofram o mesmo destino que os asiáticos”.E deixa um alerta para todos os envolvidos: “É urgente conhecer o impacto das barragens e hidrelétricas no rio Madeira sobre as populações de Inia boliviensis”.
Fatos interessantes sobre os golfinhos na América do Sul
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