Por Rosana Magalhães Gaeta
Em maio de 2013 entrevistamos o professor Salvatore Siciliano, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ e coordenador do Grupo de Estudos de Mamíferos Marinhos da Região dos Lagos (GEMM-Lagos) http://www.gemmlagos.com.br/.
O GEMM-Lagos tem como objetivo a pesquisa, programas de educação ambiental, conservação, manejo de espécies marinhas assim como de seus ambientes naturais, oceanos e costas. O grupo de pesquisa aborda o uso dos cetáceos e aves marinhas como sentinelas do ecossistema marinho e manutenção da saúde publica.
O Grupo de Estudos de Mamíferos Marinhos da Região dos Lagos (GEMM-Lagos) atuam com diversas parcerias e assim também surgiu o projeto “Toninha cadê você”
Rosana:- Qual a relação do mar em nossas vidas?
Prof. Salvatore:- O mar participa de nossas vidas de muitas maneiras.
Se pensarmos no ciclo das marés, a vida de muitos brasileiros depende de seu efeito como por exemplo os catadores de ostras, mariscos e caranguejos. Mas podemos ir além da costa visto que as correntes marinhas regulam o clima e a temperatura dos continentes. As correntes de água e de ar trazem parte da umidade necessária a formação das nuvens, ou seja, da chuva. Por outro lado, os desertos naturais estão associados as correntes de água fria.
Rosana: – Qual a importância dos oceanos na produção de oxigênio?
Prof. Salvatore:- Esta produção depende de fato muito dos oceanos. Eles são o pulmão do mundo. Os fito fitoplâncton, organismos microscópicos, existem em quantidade imensurável nos oceanos, eles são o escoadouro do carbono absorvendo-o e com isto liberando o oxigênio.
O famoso efeito estufa é consequência da acumulação do gás carbônico na atmosfera.
Os homens com o uso do combustível fóssil, adicionam carbono na atmosfera.
A Terra se preparou para tirar o carbono, e nós estamos com isto estamos fazendo o contrário.
O mar faz este papel de retirar este gás mas não sozinho, junto com as florestas.
Rosana:- A toninha, é considerada o nosso menor golfinho e com risco de extinção, por que?
Prof. Salvatore: – A distribuição geográfica é relativamente pequena, ela só existe do Espírito Santo até ao norte da Argentina. Além disto, ela vive em uma área restrita, somente numa faixa costeira muito estreita, desde a linha da praia até 3 a 4 milhas náuticas da costa. Isso corresponde a uma área geográfica muito pequena.
Ela também sofre o efeito deletério danoso, em toda a região que vive: as capturas acidentais em redes de pesca. O alvo é o peixe de valor comercial, e a toninha fica presa na rede e morre afogada.
No Rio Grande do Sul, 1000 toninhas por ano morrem em rede de pesca, o que é insustentável para a espécie.
Outro fator de impacto é a degradação costeira pela poluição, portos, industrias com as descargas nos rios e tendo como desagues final o mar.
Assim todas as espécies de vida costeira sofrem um impacto maior.
Hoje no RJ onde há planejado seis portos, imagine o impacto disto! É extremamente negativo! Além de dois complexos petrolíferos. A perturbação sonora leva as toninhas a abandonarem sua área de sobrevivência, pois elas dependem da comunicação que fica comprometida pelos ruídos.
No Brasil, noventa por cento do petróleo e do gás são extraídos do mar, toda ação que fizermos para reduzir sua demanda beneficiará a toninha.
Como: -Andar mais de bicicleta, usar menos embalagens plásticas e, aprendermos a termos estruturas marítimas que causem menos danos ao meio ambiente como exemplo o que acontece na Noruega, um importante produtor de petróleo.
Rosana:- Os agrotóxicos também trazem malefícios para o mar e por tanto para a toninha também?
Prof. Salvatore:- Os alimentos orgânicos estão voltando com grande força, como na Itália, na época de meus antepassados, eles sabiam que tinham de fazer adubo orgânico para aproveitar melhor os recursos da terra.
Hoje parte dos fertilizantes e insumos agrícolas tem como base a petroquímica.
Nos tecidos das toninhas encontramos estas substâncias.
A produção de alimentos orgânicos poderá reduzir grandemente a demanda na produção e petroquímicos.
Agradecemos a valiosa oportunidade que o professor Salvatore propiciou-nos concedendo por telefone esta entrevista e podermos compartilhá-la com os leitores! E também agradecemos todo o apoio que ele e sua equipe tem nos oferecido no desenvolvimento do projeto “O boto boliviano e a toninha no Brasil” hoje ampliado para o projeto “Mar e cidade –Unidos pela Segurança Alimentar em prol das Toninhas”