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Descoberta de golfinhos ameaçados reforça importância da Estação Ecológica de Tamoio

Duda Menegassi

domingo, 6 dezembro 2020     fonte O ECO


                                Toninhas vistas do alto no mar. Foto: Maristela Colucci/Divulgação

De hábitos tímidos e fugidios, a toninha é pouco conhecida e difícil de ser avistada, tanto por se esconder ao menor sinal de aproximação de barcos, quanto por seu tamanho, pois é a menor espécie de golfinho que habita as águas brasileiras. Um outro superlativo da espécie vem das pressões que ela sofre: é a espécie de golfinho mais ameaçada do país. Sua área de ocorrência vai desde o Espírito Santo até a Patagônia argentina, com registros de grupos aqui e acolá pela costa. Em novembro deste ano, pesquisadores fizeram a identificação inédita de um grupo de toninhas na Baía da Ilha Grande, nos arredores da Estação Ecológica de Tamoios, área protegida marinha localizada entre Paraty e Angra dos Reis. O registro confirma a importância da unidade de conservação, alvo recorrente de críticas de Bolsonaro, para preservação de zonas restritas à pesca.

O avistamento pioneiro foi feito por pesquisadores do Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores (Maqua) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) no dia 24 de novembro. Foi o primeiro registro confirmado — e devidamente documentado e fotografado — com as toninhas (Pontoporia blainvillei) na Baía de Ilha Grande. A descoberta foi documentada e noticiada com exclusividade pela jornalista Giovana Girardi neste sábado (06), no Estadão.

O local do registro, nas cercanias das ilhas e águas protegidas pela Estação Ecológica (Esec) de Tamoios, reforça a importância da unidade de conservação. “A Esec Tamoios teve um papel fundamental no achado e na manutenção dessa população. Percebemos que elas estão usando a área costeira, onde é protegido e não pode ter pesca. Ter uma unidade de conservação de cunho restritivo ali foi fundamental para proteger a espécie até agora e para que pudéssemos finalmente encontrá-las”, conta o oceanógrafo José Lailson Brito Junior, ouvido por Giovana em sua reportagem.

A grande ameaça às toninhas é justamente a pesca. Apesar de não serem o alvo das redes e anzóis, é comum a captura acidental dos pequenos golfinhos em redes de pesca. A disputa por espaços no fundo do mar é acirrada pelo fato das toninhas viverem próximas à costa, em profundidades menores do que 30 metros, onde há maior concentração de peixes e, consequentemente, de pescadores. De acordo com o Projeto de Conservação das Toninhas, apoiado pelo FUNBIO, anualmente centenas de toninhas morrem presas em redes e essa alta mortalidade é a principal causa do declínio populacional da espécie. Atualmente, estima-se que existam cerca de 20 mil toninhas distribuídas pela costa brasileira.

A Estação Ecológica possui uma extensão de 8.699 hectares, sendo quase 97% deste território de proteção marítima, o equivalente a 8.407 hectares de águas sob restrição para qualquer tipo de extração e exploração direta. Foi exatamente nestas águas proibidas para pesca que Jair Bolsonaro foi multado pelo Ibama ao ser flagrado pescando, em 2012, quando ainda era deputado. Desde que assumiu a presidência, Bolsonaro, com apoio do seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), tem colecionado declarações e tentativas de desmontar a proteção da Esec e, em seguida, transformar a região de Angra dos Reis em uma “Cancún brasileira”.

Em julho deste ano, Flávio Bolsonaro recebeu uma proposta da prefeitura de Angra para flexibilização da Estação Ecológica. Alterações — ou extinções — de unidades de conservação, entretanto, só podem ser feitas por projetos de lei e com aval do Congresso.