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Alagoas tem apenas 15% do esgoto tratado, o resto é lançado na natureza

Na capital esse número sobe para 32% e a meta é alcançar 60% até 2014.
Estado atribui problema à falta de interesse dos gestores municipais.

Fabiana De Mutiis Do G1 AL

Apenas 15% de toda a rede de esgoto em Alagoas são tratados, segundo a Secretaria de Estado da infraestrutura (Seinfra). Isso significa que 85% do esgoto produzido pela população no estado conhecido como o “Paraíso das Águas” seguem em direção a rios, lagoas e mar. O problema se deve a décadas de falta de investimento e planejamento no crescimento das cidades.
Para o secretário da Seinfra, Marco Fireman, os prefeitos não têm muito interesse em obras de esgotamento. “São obras que quebram a cidade toda, causam transtornos imensos e depois ficam embaixo da terra. Ninguém vê”, diz.

Canal de esgoto cai direto para a Lagoa do Mundaú (Foto: Jonathan Lins/G1)Canal de esgoto cai direto na Lagoa do Mundaú (Foto: Jonathan Lins/G1)

O Brasil está muito atrasado nesta questão de saneamento básico, que não envolve só coleta e tratamento de esgoto, mas também distribuição de água e coleta de resídios sólidos.
Para mudar esta situação crítica, que não é exclusividade de Alagoas, mas acontece em todo o país, o governo federal faz investimentos por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em estacões de tratamento por várias regiões.
Em Maceió, de acordo com a Seinfra, apenas 32% do esgoto são tratados. E os efeitos desse descaso são vistos não só em bairros da periferia, mas nos cartões postais de Maceió. As belíssimas praias da capital são tomadas por línguas negras. A pior situação é do riacho Salgadinho. Aquele trecho da Praia da Avenida é motivo de vergonha para a cidade que recebe tantos turistas.

Bombeiros resgatam corpo de homem encontrado no Riacho Salgadinho, em Maceió (Foto: Reprodução/TV Gazeta) 
Em meio ao lixo, até um cadáver já foi encontrado no Riacho Salgadinho (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Mas nas praias mais frequentadas, como Pajuçara, Ponta Verde e Jatiúca, os banhistas também se deparam com as galerias pluvias que se tornaram esgotos a ceú aberto. Ao passar pelo Farol da Ponta Verde o mau cheiro toma conta do lugar.
Se a situação nas lindas praias está assim, no bairros mais pobres é muito pior. Na Levada, bem perto do Mercado da Produção e não muito longe do Centro, a maioria dos moradores vivem às margens de um fétido canal.
O local fica muito próximo à Lagoa Mundaú, lugar de beleza exuberante e que seria mais uma atração turística para a capital, mas está abandonado e maltratado pela população e seus governantes.

Praias sofrem com a ação do esgoto (Foto: Jonathan Lins/G1)Praias da capital são manchadas pelas línguas negras que seguem em direção ao mar (Foto: Jonathan Lins/G1)

O aposentado Bendito Aves Dutra, 71, sabe bem como é viver em um local sem tratamento de esgoto. Ele mora há 40 anos no bairro da Levada e diz que o cheiro costumava ser insuportável, mas que já se acostumou. “Eu nem sinto mais nada, a gente já acostuma com esse cheiro”.
Marlon Clementino, 49, é açougueiro e também mora na região há 22 anos. Ele diz que a situação só piora com o tempo, porque aumenta a população e o canal fica cada vez mais sujo. Com relação a doenças ele diz que não tem muitos casos. “Eu acho que a gente cria anticorpos e não pega mais nada”, diz com um sorriso de ironia.
Já a dona de casa Verônica Aquino dos Santos, 39, diz que vê muitas crianças com diarreia e até com dengue. “Isso aqui é horrível, é péssimo, é um descaso com a gente”, diz.

Esgoto das casas são dispensados sem tratamento (à esq.); população convive com mau cheiro (Foto: Jonathan Lins/G1)Esgoto das casas são dispensados sem tratamento (à esq.); à direita, população convive com mau cheiro
(Foto: Jonathan Lins/G1)

Uma pesquisa realizada pela ONG Trata Brasil, divulgada no início deste ano, mostra que Maceió está entre as dez piores cidades do país sem saneamento básico. Foram registrados cerca de 300 casos de internação por 100 mil habitantes.
A pesquisa foi realizada em 81 cidades com mais de 300 mil habitantes entre os anos de 2003 e 2008, quando houve 67,3 mil internações por diarreia nessas cidades. Em 2011, os gastos com esse tipo de internação chegaram a R$ 140 milhões no país.
No interior do estado situações como a do bairro da Levada também são comus. Há cidades que não tratam nada de esgoto. Na última semana, o Ministério Público Federal disse que entrará com Ações Civis Pública e Criminal na Justiça cobrando que quatro municípios do interior do estado façam estações de tratamento de esgoto.
Nas cidades de Atalaia, Cajueiro, Pindoba e Capela o esgoto vem sendo jogado diretamente nos rios que desaguam nas lagoas Mundaú e Manguaba. Em Atalaia foi construída uma estação de tratamento há dez anos, mas está abandonada. A obra custou R$ 2,5 milhões aos cofres públicos.

Mãe empurra filho na cadeira de rodas na passarela de madeira no canal da Levada. (Foto: Jonathan Lins/G1) 
Mãe empurra filho na cadeira de rodas na passarela de madeira no canal da Levada. (Foto: Jonathan Lins/G1)

A procuradora da república Niedja Kaspary foi quem decidiu entrar com a ação. “Trata-se de um crime de poluição. Os municípios tiveram todas as oportunidades e o gestor não tem escolha, precisa adotar as medidas para que o meio ambiente seja preservado”, diz.
Metas
Segundo o secretário da Seinfra, Marco Fireman, até o final de 2013 Maceió alacançará 40% de tratamento de esgoto. E a meta é chegar em 60% até 2014.
Já para o estado a meta é alcançar 30%. “Até 2014 todos municípios reibeirinhos do Rio São Francisco estarão com as obras de esgotamento concluídas ou em andamento” afirma. Para Marco Fireman só em 2020 as principais cidades de Alagoas estarão 100% saneadas.
Investimento
Só de recursos federais já foram investidos R$ 230 milhões e ainda estão sendo aplicados mais R$ 200 milhões. No total são R$ 430 milhões de investimentos em tratamento de esgoto em Alagoas, segundo a Seinfra.