Saiba onde e como vivem os peixe-bois
Ninguém sabe ao certo o tamanho da população de peixes-bois na Amazônia, apenas que eles estão espalhados por toda região, onde a comida é abundante.
Ele é o maior mamífero aquático da Amazônia. Praticamente um gigante. Adulto, chega a medir 3 metros e pesar quase meia tonelada. Ninguém sabe ao certo o tamanho da população de peixes-bois na Amazônia, apenas que eles estão espalhados por toda região, onde a comida é abundante.
“O peixe-boi se alimenta de mais de 70 espécies de plantas, então atualmente trabalhamos com cinco espécies que são mais ocorrentes mais no encontro das águas, local onde coletamos o alimento”, explicou o biólogo da Associação Amigos do Peixe-Boi Diogo Alexandre de Souza.
A pela é grossa como couro e por causa dela o peixe boi foi caçado indiscriminadamente no início do século passado.
saiba mais
Cenas do filme “No país das amazonas”, rodado em 1923, pelo cineasta Silvino Santos, mostram como era a matança. Um flagrante de centenas de peixes-bois mortos em uma praia num único dia.
Os caçadores usavam arpão. A banha do animal servia como óleo combustível para as lamparinas. Só em 1967 com a lei nacional de proteção a fauna a prática foi proibida. Mas já era tarde. O peixe-boi da Amazônia tinha entrado na lista de animais ameaçados de extinção. A matança continua ainda hoje.
“Não é como no passado, porque no passado existia um comercio um mercado para o couro. Hoje esse mercado de couro não existe mais, mas a carne ainda é muito apreciada e a gente sabe que, não só no interior, mas nos mercados aqui de Manaus a gente ainda acha carne de peixe-boi”, contou Vera Silva, chefe do laboratório de mamíferos aquáticos do INPA.
Vera Silva é biólogo e trabalha com peixe-boi há 30 anos. Ela contou que as fêmeas mortas normalmente deixam um órfão, incapaz de sobreviver sozinho. Quando recebe denúncias, o Ibama e a Polícia Ambiental do Amazonas vão resgatar os bichos. É aí que entra um trabalhosério desenvolvido por biólogos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
A maior parte do que se conhece do peixe-boi da Amazônia saiu de tanques. Em 38 anos de pesquisas, o laboratório de mamíferos aquáticos do INPA já realizou mais de 100 estudos com a espécie. Cada informação é peça de um quebra-cabeças, que tenta entender, para ajudar a preservar o peixe-boi da Amazônia.
Normalmente os filhotes são poupados pelos caçadores e acabam nestes tanques. Para sobreviver, os bebês recebem uma fórmula especial, a base de leite em pó, óleo de canola e um complexo vitamínico.
E lá vão os tratadores amamentar os pequenos. Uma mamadeira gigante para um bebe guloso. Um filhote como de mais ou menos um ano chega a mamar até quatro litros por dia. O leite enriquecido de gordura parecido com o da mãe peixe-boi fez aumentar a taxa de sobrevivência. De cada 10 filhotes órfãos que chegam, 8 atingem a idade adulta.
Eles crescem, saem do berçário e vão parar em outro tanque, onde ficam os mais jovens, que tem entre 3 e oito anos de idade. Uma vez por semana os tanques são secos para limpeza. O peixe-boi pode ficar horas fora d’água, mas a pele dele tem que ser mantida sempre hidratada e é neste momento que os pesquisadores realizam exames.
O comportamento é discreto, mas esses animais se comunicam. A equipe do Globo Repórter descobriu no instituto uma pesquisadora que estuda a linguagem do peixe-boi. Ela usa um gravador. Embaixo d’água registra as ondas sonoras que depois são analisadas.
“O que a gente sabe é que esses animais possuem uma assinatura vocal, ou seja, cada um tem uma característica no som que o identifica. Nós sabemos que existem elementos na voz, do filhote que é similar ao da mãe, mas nos não conhecemos esse vocabulário”, disse Vera Silva.
E será que depois da vida em cativeiro esses animais vão conseguir voltar à natureza? Essa resposta os pesquisadores ainda não tem. Por enquanto, alguns animais são trazidos para um lago semi-natural. Lá o peixe-boi tem que aprender a se alimentar sozinho.
“Depois que soltamos, o monitoramente é integral. A gente permanece diariamente pra acompanhar o deslocamento dos animais, saber se eles estão se alimentando, e a cada três meses, fazemos uma recaptura para acompanhar a saúde e ver se realmente os animais eles estão bem clinicamente ou não”, ressaltou Diogo Alexandre.
Mas para o sucesso do projeto os moradores da região, a população, tem que ajudar.
Em uma escola ribeirinha de Manacapurú, as crianças aprendem brincando.
“O principal é educação ambiental. Trabalhar com a geração de crianças para que no futuro possamos ter muito peixe-boi na natureza”, completou Diogo Alexandre.